Conheça neste artigo os livros imagem de Ilan Brenman e Guilherme Karsten e seu grande potencial para aulas de Inglês. Baixe, também, um mapa de leitura do livro Familias com sugestões de trabalho e atividades.”
Crianças causando alvoroço em um restaurante e um adulto propondo a brincadeira de “telefone sem fio” para apaziguar olhares fulminantes ao redor. Esta poderia ser apenas uma cena corriqueira, mas nas mãos de Ilan Brenman tornou-se o tema de um livro imagem belissimamente ilustrado pelo artista visual Renato Moriconi. Telefone sem Fio tornou-se parte de uma trilogia: Bocejo, com onomatopeias e Caras Animalescas, com textos curtos. Os três títulos têm formato bem maior do que livros do gênero, como que reproduzindo lâminas de retratos de obra-arte. Pintadas a óleo, as impressionantes imagens em Telefone sem fio, sem texto, deixam ao leitor um silêncio que pode ser preenchido em um jogo de adivinhação acerca do que os personagens podem estar cochichando a cada virar de página.
Esse tipo de jogo é um elemento presente em muitos livros imagem, este tipo de livro ilustrado que pode causar a adultos, principalmente, um estranhamento ao primeiro contato. Por ter pouquíssimas palavras ou mesmo nenhuma- exceto o título, a pergunta que se apresenta é: o que fazer, então, com um livro sem texto?
Brincar. Parece mas não é, recém lançado, também é inspirado no cotidiano com suas filhas. Nele, Ilan Brenman e o ilustrador Guilherme Karsten, num jogo de adivinhação, brincam com a ideia de como as aparências podem enganar. Através de efeitos ópticos e perguntas, o livro convida a explorá-lo de diferentes perspectivas: afastando-se das imagens, virando-o e aguçando o olhar. Cada página dupla transforma-se em um instigante enigma, fazendo também referência a artistas, o que pode render um bom trabalho de pós-leitura. A imagem da capa alude ao artista Arcimboldo.
Brincar. Parece, mas não é!, recém lançado, também é inspirado no cotidiano com suas
filhas. Nele, Ilan Brenman e o ilustrador Guilherme Karsten,
num jogo de adivinhação, brincam com a ideia de como as
aparências podem enganar. Através de efeitos ópticos e
perguntas, o livro convida a explorá-lo de diferentes
perspectivas: afastando-se das imagens, virando-o e aguçando
o olhar. Cada página dupla transforma-se em um instigante
enigma, fazendo também referência a artistas, o que pode
render um bom trabalho de pós-leitura. A imagem da capa
alude ao artista Arcimboldo.
Em Enganos, a idéia do jogo de aparências também está presente. Em formato horizontal, explorando também a materialidade do livro, uma sequência de páginas duplas mostra silhuetas em forma de sombras que levam o leitor a fazer suposições sobre a cena, que é desmontada na sequência seguinte. Esta brincadeira instiga o leitor a prosseguir a leitura para constatar se foi enganado ou não. Além disso, pode render uma boa discussão sobre julgamentos feitos a partir de aparências.
É notável a habilidade de Ilan Brenman de contar histórias e atrair pessoas para ouvi- las. Aclamado escritor, tem mais de 80 livros e 40 traduzidos para outras línguas, além de muitos prêmios. É, no entanto, em seus livros de imagem que ele dá voz ao leitor. Em um bate-papo/ live com Eva Furnari, no seu perfil do Instagram, citou Paul Zumthor, um importante medievalista e linguista, para trazer a questão da imagem. Explicou que na idade média, nas bíblias com as iluminuras, as imagens eram índices de oralidade. “Estas imagens, na bíblia ou no livro infantil, são os contadores de história, porque exatamente a criança que não sabe ler, através destas imagens, se aproxima da história”.
Neste tipo de livro ilustrado, o título, muitas vezes o único suporte verbal, representa o fio que conduzirá o leitor na construção do sentido. Em Refugiados, temos mais um elemento condutor: logo na capa há a imagem estourada de um homem correndo, carregando uma mala e usando um colar. Este colar é uma peça significativa que aparecerá ao longo de toda a narrativa que se desdobra mostrando várias famílias se mudando, por motivos diversos e em tempos diferentes.
Explorar um livro como objeto significa estar atento aos mínimos detalhes: tudo faz parte da narrativa. E ler imagens em toda sua potência torna-se fundamental. Refugiados, também ilustrado por Guilherme Karsten, tem um rico projeto gráfico. Ao abrir o livro, as guardas- as primeiras páginas que prendem a capa ao miolo- já apresentam duas mãos entregando este colar a outras duas mãos. Ao virar a página, vemos uma figura egípcia observando o colar em suas mãos. A folha de rosto, em seguida, também apresenta o colar entrelaçado no título. Neste sentido, presumir que a narrativa somente começa nas páginas centrais pode reduzir muito a experiência leitora.
A primeira família nas primeiras páginas duplas é de egípcios, e assim segue a sequência, repleta de referências históricas e ficcionais, com famílias se mudando e o colar transitando entre as páginas duplas. Nas últimas páginas há a biografia do autor e do ilustrador. Ao lado, um curto texto explicando de que se trata este colar. Mas o livro ainda não termina aí. É na guarda final que se instaura um tom poético, ao dar circularidade a narrativa, como se o colar ainda continuasse a cumprir seu papel por gerações por vir. Isso porque a concepção do livro é a de que todos temos, de alguma forma, uma história de deslocamento em nossa trajetória familiar. Passada ou presente.
Refugiados nos mostra que o livro imagem pode também suscitar, através de um tom mais poético, o convite a uma reflexão mais sensível.
Que outra experiência de fruição pode o livro imagem oferecer? Humor. Quem não se deleita com imagens que por si só já nos fazem rir?
Em Famílias temos em cada página dupla um divertido nome de família em alusão ao seu estilo próprio. A família da capa, os Venezes, remete a cidade italiana, explorando cenas inusitadas, como a menina na banheira/gôndola tocando sanfona e uma escova longa que representa o remo. Com humor, o livro convida a relativizar o que é diferente e o que é singularidade, trazendo muitas referências aos olhos atentos. A sequência culmina em um quadro em branco, onde o leitor pode desenhar sua própria família, numa celebração a sua própria identidade.
Em uma sociedade altamente visual falar da importância do letramento visual é redundante e o fato de a criança ter maior proximidade com a imagem do que com a palavra escrita, também inegável. Fica aqui, então, o convite a se apreciar o livro imagem a partir desta gramática que fala aos olhos.
Nota: Se você é professor de Inglês e gostaria de propor a leitura e atividades com seus alunos, a partir do livro Famílias, baixe aqui o pdf do Reading Map com sugestões e considerações sobre o trabalho com Livro Imagem em contexto de segunda língua.
Bibliografia
ARIZPE, E. Meaning-making from wordless (or nearly wordless) picturebooks: what educational research expects and what readers have to say, Cambridge Journal of Education, 43:2, 163-176176, DOI
BRENMAN, Ilan. Através da Vidraça da Escola: formando novos leitores. São Paulo, Casa do Psicólogo, 2005
LINDEN, S.V. Para Ler o Livro Ilustrado. São Paulo, CosacNaif, 2011
NIKOLAJEVA, M. & Scott, C. Livro Ilustrado: palavras