
- TROIKA: Você se autodenomina “HackerAntirracista”. Poderia nos explicar o que isso quer dizer e por que essa autodenomição?
- NINA DA HORA: Como uma “HackerAntirracista”, vejo minha jornada na interseção de tecnologia, programação e justiça social como uma missão pessoal para combater o racismo e fomentar a igualdade racial. Este papel não é apenas uma carreira ou interesse acadêmico; é uma extensão de minha identidade e valores, moldados pelas experiências vividas e pela determinação em criar um futuro mais justo e inclusivo.
Desde o início de minha trajetória no mundo da tecnologia, percebi como os sistemas digitais e algoritmos podem ser espelhos das desigualdades sociais, perpetuando vieses raciais e discriminatórios de maneiras sutis, mas profundamente impactantes. Observar essas injustiças em espaços que deveriam ser neutros foi um despertar, me levando a adotar a autodenominação de “HackerAntirracista”. Para mim, isso significa ir além do uso convencional da tecnologia; é empregar minhas habilidades e conhecimento para desafiar e transformar as estruturas existentes.
A atuação antirracista no campo digital envolve uma variedade de ações e estratégias. Uma delas é a análise crítica de algoritmos e sistemas para identificar e expor vieses raciais. Isso pode significar, por exemplo, desmontar como os sistemas de reconhecimento facial têm maior taxa de erro para pessoas de pele mais escura ou como os algoritmos de contratação podem inadvertidamente favorecer candidatos de determinados backgrounds étnicos. Ao trazer essas questões à luz, busco não apenas evidenciar os problemas, mas também colaborar na busca por soluções que tornem a tecnologia mais justa e inclusiva.
Outro aspecto crucial de ser uma “HackerAntirracista” é trabalhar para ampliar o acesso e a inclusão no espaço tecnológico. Isso significa promover a diversidade entre os profissionais de tecnologia e criar oportunidades para que pessoas negras e de comunidades marginalizadas possam desenvolver habilidades e carreiras nesse campo. Através de mentorias, workshops, e parcerias com organizações focadas na inclusão digital, esforço-me para construir pontes que possam superar o fosso digital racial.
Creio firmemente que a tecnologia possui o potencial tanto de perpetuar quanto de desmantelar estruturas de opressão. Esta dualidade é o que me motiva a escolher conscientemente como aplicar minhas habilidades e conhecimentos. Opto por usar a tecnologia como uma ferramenta para promover a justiça social, lutando contra o racismo em todas as suas formas digitais e algorítmicas.
Ser uma “HackerAntirracista” é, em essência, comprometer-se com uma jornada de aprendizado contínuo, desafio e ação. É reconhecer que, embora individualmente possamos não ser capazes de desmantelar completamente sistemas de opressão, juntos, podemos fazer a diferença significativa. É sobre empregar cada linha de código, cada análise de dados, cada projeto tecnológico como um passo em direção a um mundo onde a igualdade racial não seja apenas um ideal, mas uma realidade palpável.
Este compromisso me impulsiona a seguir em frente, buscando constantemente maneiras de combinar tecnologia e ativismo antirracista. Através deste trabalho, espero contribuir para uma sociedade onde a justiça, a igualdade e a inclusão não sejam apenas aspirações, mas fundamentos integrados nas estruturas de nosso mundo digital.
- T: Como você definiria o conceito de cibersegurança? E justiça algorítmica?
- NH: Cibersegurança é a prática de proteger sistemas, redes e programas de ataques digitais. Envolve medidas para garantir a integridade, confidencialidade e disponibilidade de informações. Justiça algorítmica, por outro lado, é um conceito que busca assegurar que os algoritmos operem de maneira justa, sem discriminação ou viés, promovendo a equidade e a justiça social. Ambos são fundamentais para construir um futuro digital seguro e inclusivo.
- T: Qual a importância dessas áreas para professoras e professores?
- NH: Para professoras e professores, a compreensão da cibersegurança e da justiça algorítmica é crucial para proteger a privacidade e segurança dos dados de estudantes e para assegurar que os recursos tecnológicos utilizados em sala de aula promovam a igualdade e a inclusão. Além disso, educadores informados sobre essas questões podem preparar melhor seus alunos para navegar e contribuir positivamente no mundo digital.
- T: Qual o papel da educação no letramento tecnológico das próximas gerações?
- NH: A educação desempenha um papel vital no letramento tecnológico, preparando as próximas gerações para participar ativamente de uma sociedade cada vez mais digital. Isso envolve não apenas ensinar habilidades técnicas, mas também cultivar uma compreensão crítica de como a tecnologia impacta a sociedade e os indivíduos, promovendo o uso responsável e ético da tecnologia.
- T: Como professoras e professores podem se manter atualizados nessa área?
- NH: Educadores podem se manter atualizados participando de workshops, cursos online, conferências e grupos de estudo focados em tecnologia educacional. Seguir publicações, blogs e fóruns da área também ajuda a acompanhar as últimas tendências e descobertas. Além disso, a colaboração com colegas e a experimentação com novas ferramentas e métodos em sala de aula são práticas valiosas.
- T: Em 2020, você fundou o Instituto da Hora. Quais são as principais áreas de atuação do instituto?
- NH: O Instituto da Hora foi fundado com o objetivo de promover a educação tecnológica inclusiva, o letramento digital e o combate ao racismo no espaço digital. Nossas principais áreas de atuação incluem o desenvolvimento de programas educacionais para jovens de comunidades marginalizadas, pesquisas sobre viés racial em tecnologia e a promoção de políticas públicas para uma tecnologia mais inclusiva e justa.
- T: Como a tecnologia pode ajudar ou atrapalhar o movimento antirracista?
- NH: A tecnologia pode ser uma ferramenta poderosa para o movimento antirracista, facilitando a disseminação de informações, a organização de ações coletivas e a exposição de injustiças. No entanto, também pode perpetuar o racismo através de vieses algorítmicos e exclusão digital. É crucial trabalhar para que a tecnologia sirva como um instrumento de empoderamento e igualdade.
- T: Como professoras e professores podem usar a tecnologia para desenvolver a consciência antirracista?
- NH: Professoras e professores podem utilizar a tecnologia para desenvolver a consciência antirracista por meio de recursos educacionais digitais que abordem a história e as questões raciais, plataformas para discussões e projetos colaborativos que promovam a diversidade e a inclusão. Ferramentas digitais também podem ser usadas para criar ambientes de aprendizagem que reflitam e respeitem a diversidade.
Interviewee:
Cientista da Computação em construção pela PUCRio. De Duque de Caxias. Experiência no Programa Apple developer Academy formação de developers da Apple para estudantes. 2018 Scholarship Apple WorldWide developers conference. Research Scholarship Youth Program Internet – CGI 2020. Criadora do Ogunhe Podcast . Colunista do MITTechReviewBrasil e GizModo e Membro do Conselho consultivo de segurança do TikTok. Membro do conselho de transparência do TSE e Pesquisadora Cyberbrics CTS/FGV.