
Oferecer uma aula eficaz e interessante para os estudantes é uma das principais preocupações dos docentes do ensino básico. Prender a atenção de crianças e adolescentes sempre foi um desafio. Com as atividades remotas durante a pandemia, as dificuldades aumentaram – e muito.
As videochamadas permitiram a continuidade de parte da rotina escolar. O.k., mas nem todos estavam acostumados a navegar nas plataformas online. Sem falar nos estudantes que não possuíam acesso à internet de qualidade, um dos principais problemas da rede pública em 2020. Além disso, o isolamento social impediu a criação de laços mais fortes entre estudantes e docentes e a manutenção das estratégias de ensino adotadas no presencial pré-pandemia. Para não gerar frustação, foi necessário criar novas estratégias de engajamento das turmas.
É nesse contexto que o conceito de sala de aula eficaz se tornou o centro dos debates atuais, como o que iniciou a 1ª Jornada CriAtiva da Rhyzos Educação. Um dos convidados do evento, o consultor educacional Lyle French, destacou que tudo começa pelo planejamento. A escola, gestores e professores devem arquitetar quais competências pretendem desenvolver nos estudantes. French indica três passos para cumprir a tarefa:
- Estabelecer objetivos e metas de aprendizagem e comunicá-los claramente
O currículo guia o processo de aprendizagem. Para englobar todas as demandas da comunidade escolar e ter maiores chances de sucesso no ensino, sua formatação deve ser feita em conjunto por gestores e corpo docente. A tarefa é norteada pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e pelo contexto escolar, levando em conta as habilidades e capacidades dos professores e estudantes, assim como as características da comunidade em que a instituição está inserida.
French ainda chama atenção para um detalhe da primeira etapa: a escolha dos verbos utilizados nos objetivos de aprendizagem. “Evitamos definir que os estudantes vão entender ou saber determinado conteúdo. É preferível dizer que eles serão capazes de explicar, descrever, comparar, avaliar, construir e interpretar.”, explica. - Acompanhar ativamente o progresso dos estudantes
O monitoramento frequente do progresso dos estudantes está entre os principais fatores que influenciam na aprendizagem, segundo o estudo Effective schools for the urban poor, de Ronald Edmonds. Antes, entretanto, é fundamental estabelecer quais são as metas do processo de ensino e aprendizagem.
A ideia é que os estudantes saibam como e onde precisam chegar. “Cada escola deve definir como avaliar os avanços.”, complementa a fundadora da Ativa Educação, Julia Andrade. O acompanhamento abre as portas para feedbacks individuais e coletivos. Assim, a instituição consegue identificar qual estudante requer mais atenção e pode adotar novas estratégias pedagógicas quando necessário. - Comemorar o sucesso do estudante
Quando os estudantes atingem as metas traçadas para um semestre, é importante celebrar a conquista. A iniciativa incentiva os jovens a continuarem se dedicando às atividades e aos estudos. Dessa maneira, não só garante uma escola eficaz como vai além de desenvolver competências e habilidades, aumentando a felicidade e a autoestima do alunado.
O que é uma escola eficaz?
O Relatório Coleman, publicado em 1966, é considerado o precursor dos estudos sobre eficácia escolar. A pesquisa, feita com mais de 600 mil estudantes de três mil escolas dos Estados Unidos, tentou compreender a distribuição de oportunidades nas instituições de ensino, considerando a cor, a raça, a origem social e a religião. Na época, a diferença de infraestrutura e recursos pedagógicos entre as escolas foi apontada como a causa da desigualdade de oportunidades.
Ao longo dos anos, o estudo do tema foi aprofundado. Hoje, há um consenso sobre o que é uma escola eficaz. A definição a seguir é do diretor da Cátedra UNESCO em Educação para a Justiça Social da Universidade Autônoma de Madri, Francisco Javier Murillo Torrecilla: “É aquela que consegue um desenvolvimento integral de todos os seus estudantes, em grupo e individualmente, maior do que seria esperado, levando-se em conta seu rendimento prévio, além da situação social, econômica e cultural das famílias”.

