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Descobrindo o mundo com linguagem, mas qual linguagem?

A aprendizagem de línguas de cada criança é completamente diferente. Alguns anos atrás, dei aulas de inglês, aqui em São Paulo, para dois irmãos holandeses, Tommo, de dez anos, e Nikko, de nove anos. O pai era gerente em uma empresa multinacional, e tinha passado os últimos dez anos em vários países. Assim, a língua que os meninos escutaram mais quando nasceram era a língua da babá, na Indonésia, e, claro ouviram o holandês da mãe, também dos Países Baixos.
Voltaram para Europa, para Itália, e depois para a França, onde os meninos estudaram em escola de língua inglesa, e depois para o Brasil, onde foram para a Escola Britânica, St. Paul’s. Então, quantas línguas?: A língua da babá na Indonésia, holandês, italiano, francês, português, e inglês: seis. Tommo tinha muitos problemas, não dominava nenhuma língua, a não ser o holandês que ela falava com a família; parecia que as constantes mudanças tinham sido bastante traumáticas para o seu desenvolvimento linguístico e acadêmico. Mas, o menor, Nikko, menino muito inteligente, se expressava sem o menor problema em três ou quatro línguas, e parece ter aproveitado bastante de sua experiência e aprendizagem de uma variedade de línguas.
Qual é a política que se deveria adoptar com seu próprio filho em termos de aprendizagem de línguas, especialmente quando mais de uma língua é falada em casa? No meu caso, sendo falante nativo de inglês me senti quase obrigado a fazer com que meus filhos soubessem inglês para ter uma vantagem para começar a vida.
Com meu filho Thomas, agora com 32 anos, sempre falava inglês, mas separei de sua mãe brasileira quando ele tinha cinco anos, e somente o via nos fins de semana. Não foi o suficiente para manter o laço com o inglês. Chegou o momento quando ele tinha seis anos e pediu: “Pai, não fala inglês comigo – não entendo nada!” E, para manter o contato decidi falar português… Depois, passou as férias na Inglaterra com meus pais, jogou cricket com os ingleses no Brasil, e aprendeu a língua bastante bem.
Então com Marcela, nascida no fim de abril de 2012, qual seria a política linguística? Não há. Eu sempre falo inglês com ela, e Thaís fala uma mistura de inglês e português. Dizem que crianças escutando duas línguas começam a falar mais tarde. Talvez seja o caso dela. É só agora, com dois anos e três meses que está começando a disparar na fala, mas na língua dela, nenês, como dizem.
A primeira palavra foi “da”, e fiquei muito contente, pensando que fosse uma versão de “daddy”, mas acho que foi “dá” do verbo “dar”, e, claro, “mama”. “Abs” eram sapatos ou meias, e “dij”, balão, talvez de bixiga. Logo veio “av”, avião, e “lablabla”, batendo a língua contra ou lábios duas, três, quatro vezes. Isso quer dizer helicóptero. Será que vem do som das hélices?
“Wowow” não precisa de explicação; “popo” é pássaro, um rugido descreve leões e tigres; um sopro forte é um lobo, apud o lobo mau e os três porquinhos; e, depois de ver as tartarugas em Ubatuba no último fim de semana, “durdu” parece sua maneira de dizer “turtle”.
“Dadá” tornou-se “Dadae”; mas “dadae” é qualquer homem, com “mamãe” é qualquer mulher; nené é qualquer criança; e “vó” é qualquer mulher um pouco mais velha; e “nanny” (minha mãe tem 84 anos) é qualquer mulher mais velha. Em Ubatuba vimos vários urubus: “Dadae”, e “Mamãe” os chamou, os pais dos pássaros menores! As categorias ainda são muito gerais e vão sendo afinadas: “caa” inclui não só carne, mas também peixe. “Wowow” também inclui animais que ela vê que têm uma vaga semelhança como castores e capivaras.
Suas palavras mais frequentes são “no” – ainda não está nasalizando os sons; “isso”, para “sim”, ou apontando uma coisa que ela quer; e o que parece “more”, quando quer mais comida ou leite. “Ada” é “água”, mas também chuva, rio e mar. “Yamyam” é comida. E está começando a sentir a espacialização, apontando para “there”, e “me”: “No dadae, yamyam me”.
Como 100% das crianças de sua idade, é grande da Peppa Pig. Peppa é uma palavra muito fácil, e ela tem seu “dadae” e “mamãe”, mas ainda não consegue fala o nome do seu irmão: o “j” de George parece ser um som muito difícil para crianças!

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John Milton é professor de Literatura Inglesa e Estudos da Tradução na USP. Ele acaba de lançar Viagem à Turquia, Balcãs e Egito, pela Editora Hedra.
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