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O que acontece com o interior de SP? – Rodolfo Mattiello

Já está mais que evidente e muito bem esclarecido o quão importante são os cursos e workshops para capacitação de professores. Não somente os professores, mas também os coordenadores afinal eles precisam estar cientes de como seus professores de inglês irão desempenhar suas funções. No estado de São Paulo, temos a capital como um hub de capacitação, mas no interior as coisas andam muito devagar e super resistentes ainda.
Na capital paulista já está bem difundida a ideia de que os professores de língua inglesa precisam estar muito atualizados com relação às práticas, conceitos, abordagens e conhecimento de língua. As escolas já exigem dos professores de inglês níveis de proficiência condizentes com a de um educador que será responsável pelo ensino de um idioma completamente novo para as crianças. Uma vez dentro da escola, o educador também é exigido que se atualize constantemente, participando de cursos, workshops e congressos. Ou seja, o professor está ciente de que precisa ter um mindset de busca por novidades se quiser manter seu valioso e riquíssimo trabalho ou então será ultrapassado por educadores que estão somente esperando por uma oportunidade para desempenhar todo seu potencial. Claro que tudo isso não pode acontecer de forma outorgada. A maioria das escolas paulistanas tem encorajado seus educadores e também oferecem opções de capacitação de maneira frequente, tanto in loco quanto fora dos muros da escola e esse comportamento contribui positivamente para a qualificação das aulas de língua inglesa.
Em uma direção completamente oposta se encontram as escolas e comportamento dos professores das cidades do interior do estado de São Paulo. Enquanto educadores da capital têm o incentivo e, até por vezes, a pressão pela busca de capacitação, os professores de língua inglesa do interior do estado ainda caminham em marcha muito lenta. Em uma pesquisa realizada em 2015 do Prova Brasil, os professores de algumas cidades de grande e médio porte do interior disseram não terem tempo para realização de capacitação (aproximadamente 63% em média). Se a gente colocar essa porcentagem em perspectiva e transferir para única e exclusivamente professores de língua inglesa, podemos questionar a resposta fornecida pelos professores. Claro que o número de congressos e de centros de formação nas cidades do interior são muito menores em comparação com a capital, mas existem alguns focos. Mais recentemente, em Campinas, foi feita uma enquete justamente pedindo que professores dissessem quais horários gostariam de fazer cursos de capacitação e mesmo assim o interesse e procura por cursos foi muito abaixo do esperado, sendo que muitos cursos foram oferecidos após o horário de trabalho e aos sábados também.
As escolas, por sua vez, não encorajam tal busca por parte dos professores. Tal qual muitos educadores, as escolas ainda enxergam cursos de capacitação como um gasto e não investimento e contribuem para que os professores fiquem à mercê de atitudes individuais na busca por novidades e conhecimento. O posicionamento da maioria das escolas do interior ante às capacitações, por muitas  vezes tratando com certo descaso, pode ser um tiro pela culatra, pois em algum momento a geração de alunos vai demandar uma prática, uma abordagem diferenciada e caso os educadores não possuam as ferramentas necessárias, claro que a escola vai perder aluno. Esse desdém também pode ser observado na contratação de professores de inglês. Muitas escolas, inclusive as que se auto proclamam bilíngues, não exigem professores com conhecimento de língua comprovado, isto é, muitos educadores ministram aulas de inglês sem uma certificação de proficiência, colocando em alto risco a qualidade da língua ao qual as crianças são expostas e isso faz uma diferença enorme no processo de aquisição de língua estrangeira.
Outro problema sério de comportamento na questão voltada para capacitação de professores de língua inglesa no interior do estado de São Paulo é a falta de interesse de universitários em procurar por conhecimentos além faculdade. O ingresso em uma instituição de nível superior é, sim, de extrema importância, mas os cursos de capacitação propiciam aos universitários perspectivas mais aprofundadas sobre um determinado assunto e complementam a visão macro que o Ensino Superior oferece. Porém, a movimentação universitária de alunos dos cursos de Pedagogia e Letras do interior de São Paulo é quase nula. A impressão passada é a de que o curso superior basta para simplesmente se inserir no mercado de trabalho, entrar em sala de aula e todo conhecimento da faculdade seria suficiente para alavancar a qualidade do ensino de língua inglesa nas escolas. Seria ótimo se assim fosse, tão simples, mas não é. Esse marasmo pode ser notado na mesma pesquisa de 2015 anteriormente citada quando em média, somente 10% dos professores, aproximadamente, têm uma titulação de pós-graduação, mestrado ou doutorado nas cidades de médio e grande porte do interior de São Paulo.
O cenário de ensino de língua inglesa no interior anda a passos muito lentos e os responsáveis pela mudança desse status quo não parece estar muito interessado em modificar a situação atual. Escolas têm uma visão bem turva da capacitação e chegam a dar uma leve esnobada, colocando a atualização profissional dos educadores próximo do último plano. Essa atitude fomenta a o ar blazê dos professores que, por não terem nem incentivo nem pressão das escolas para se capacitarem, raramente buscam cursos e participações de workshops e esse ciclo vicioso interfere negativamente na qualidade do ensino de língua inglesa nas escolas e quem perde com isso são as gerações de alunos que por décadas terminam seu período escolar sem o conhecimento do idioma da maneira que deveria ser.

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