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As Imagens do Conhecimento!

Por Tânia De Chiaro*

Em nossa última conversa estávamos falando sobre ESP e disse a vocês que continuaríamos a conversa na coluna deste mês…Ocorre que acabo de escrever um artigo bastante abrangente sobre ESP para a New Routes e vou convidá-los a aguardar a publicação de setembro.
Por isso, sugiro que mudemos um pouco de assunto… Uma das pessoas com quem aprendi a refletir sobre isso foi o professor José Nilson Machado da Faculdade de Educação da USP,  um de meus mestres durante o mestrado, e quero compartilhar com vocês…
O objetivo de nossa conversa de hoje é provocar a sua reflexão, professor. Ao refletir, trazemos para consciência uma prática que pode estar sendo executada inconscientemente e a partir disso, podemos realizar as transformações que julgamos necessário.
Como sabem, nós, professores reflexivos, aprendemos com a nossa prática. A cada aula dada é possível questionar os resultados alcançados, refletir sobre eles, e então inovar, experimentar novos caminhos para depois questioná-los e reiniciar todo o processo. Não importa se você tem 1 semana de experiência ou 30 anos, penso que não devemos nunca parar de buscar e analisar novos caminhos.
Vamos pensar em algumas imagens associadas à construção do conhecimento ao mesmo tempo em que refletimos sobre o nosso papel de professor. Com qual dessas imagens nos identificamos mais? Como elas norteiam a nossa prática?
Uma dessas imagens pode ser o ‘balde’. O aluno é como um balde vazio e o professor é aquele que tem o papel de encher esse balde. De acordo com essa imagem, o professor seria o detentor de conhecimento e o aluno, um receptor.  Essa imagem também pressupõe que o aluno chega à escola vazio de conhecimento, ele não sabe nada. Ao final de um determinado tempo, para avaliar o aluno bastaria observar o nível do balde. Um balde cheio significaria um aluno que aprendeu bastante. Meus leitores dirão que esse tipo de ensino já não é mais praticado há algum tempo. E eu responderei que talvez alguns dos conceitos que a imagem do balde nos traz nunca nos deixaram…
Há também a imagem do conhecimento como uma ‘cadeia’ de ensinamentos. Essa imagem pressupõe o conhecimento em uma sequência lógica e, geralmente, necessária nessa concepção. Para um conhecimento muito complexo sugere-se uma subdivisão em unidades mais simples. Como numa corrente, um elo está ligado a somente um outro e para que a próxima conexão aconteça é preciso que a anterior já tenha sido feita. Há uma só ligação e uma sequência possíveis. O aluno que sabe é aquele que conhece a ligação, a sequência ou parte dela.  Outras relações possíveis entre os conhecimentos que o aluno tem não são consideradas relevantes.
Outra imagem de conhecimento é a ‘rede’. Pense em uma rede de pesca, nessa rede, os nós seriam os conceitos, as ideias e os fios que conectam esses nós, os caminhos de significação que construímos, as relações que estabelecemos entres essas ideias.  Cada um de nós já chega à escola com uma rede de significações.  À escola e ao professor cabe ampliar e enriquecer as relações percebidas, indicar novas relações, provocar o aluno a novos percursos.  Ao avaliar o aluno, o professor vai observar as relações que ele construiu entre os vários conceitos que foram adicionados à sua rede de conhecimento.
Por último, falemos da imagem do ‘iceberg’. Ela serve para demonstrar que cada um de nós sabe muito mais do que consegue expressar em palavras. Grande parte de nosso conhecimento é tácito, e como um iceberg, está submerso. Como alunos, aprendemos por muitos meios e percebemos muito mais do que aprendemos explicitamente. Como professores, ensinamos muito mais do que aquilo que explicitamente falamos. A grande conquista seria aprender a fazer uma articulação entre nosso conhecimento tácito e o explícito.
E então, de posse dessas imagens, perguntamo-nos: quais são as implicações pedagógicas disso? Podemos pensar em certo ou errado, adequado ou não?
Eu penso que não seja necessária a escolha de uma única imagem como a correta ou ideal. Haverá momentos em que precisaremos subdividir e encadear conhecimentos, como haverá momentos em que a rede de conhecimentos do aluno poderá ser útil nessa construção e articulação de ideias. Às vezes, precisaremos explicitar e fazê-lo aprender a explicitar o que está tácito naquele iceberg.
É fundamental levarmos em consideração os objetivos do curso, e principalmente, os alunos em questão e sua rede de conhecimentos pessoal. 
Como dissemos, qualquer aluno quando chega à escola já possui uma rede de conhecimentos. Cada criança, adolescente ou adulto trará uma rede muito distinta por conta de sua experiência escolar, sua experiência de vida familiar e/ou profissional.  Cabe a nós, professores, considerar essa rede e provocá-la a uma expansão, uma transformação.
Às vezes, como professores de idiomas, sem querer, podemos nos esquecer de nossa missão primeira…somos educadores!
Tania de Chiaro
Para saber mais, leia:
Machado, J. N. Conhecimento e Valor. São Paulo: Moderna, 2004.
Tânia Regina Peccinini De Chiaro é graduada em Letras pela FFLCH e mestre na área de linguagem e educação pela Faculdade de Educação, ambas da USP. Como diretora da Link English Projects, desenvolve projetos corporativos de capacitação profissional para o atendimento de clientes estrangeiros em inglês e cuida da capacitação de professores. Tânia é autora de Inglês para restaurantes e Inglês para hotelaria pela Disal Editora.
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