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Vamos ensinar Inglês ao Joãozinho…

No mundo inteiro, pais de famílias nas quais se fala mais de uma língua, debatem sobre a língua ou línguas que deveriam falar com o filho ou filha. “Se falarmos mais de uma língua, Joãozinho vai se atrapalhar, não vai conseguir falar nada e só vai começar a falar aos dois anos ficando atrás de todos os outros meninos…” Ou, “Temos que falar inglês com ele sempre. Se ele crescer escutando inglês, isso vai ser uma grande vantagem no seu futuro…”. E existem muitas outras possibilidades. Por exemplo, o pai fala a sua língua nativa, e a mãe fala a sua. Se tudo der certo o Joãozinho vai crescer falando as duas. Mas é muito difícil fazer um controle perfeito para que ele fale as duas línguas. 
Quase sempre a criança passa mais tempo com a sua mãe, e assim, tem mais chance de aprender essa língua. Mas e se os pais estão separados e ele somente passa os fins de semana com o pai, morando no país da mãe e não tendo amiguinhos que falam a língua do pai? Isso foi minha experiência com meu filho Thomas quando me separei de sua mãe, ele tinha cinco anos. Me encontrava com Thomas nos fins de semana. Sempre tinha falado inglês com ele, mas um dia, passando pelo centro de São Paulo, me disse: “Pai, não fala inglês comigo. Não entendo nada!” E, para manter a proximidade com Thomas, comecei a falar português com ele. Mas depois, quando ele passava férias com meus pais em Birmingham e jogava basquete e futebol no colégio do bairro, os outros meninos chamavam-no de Romário, e aprendeu a falar bem inglês.

Cada situação é completamente diferente. Uns vinte anos atrás, dei umas aulas particulares para dois irmãos holandeses. Nasceram na Indonésia: sua primeira língua era a língua indígena da babá; e depois o holandês dos pais; o pai foi transferido para Itália, onde foram para uma escola francesa; e depois para Espanha; e finalmente para o Brasil, onde foram para a Escola Britânica, St. Paul’s. Então tiveram contato com sete línguas na escola e em casa.
Tommo, de dez anos, tinha muitos problemas. Falava holandês mais ou menos com a família e sabia algumas palavras de inglês, mas tinha muitos problemas para aprender. Se ele tivesse nascido na Holanda e crescido somente falando holandês, provavelmente ele não teria tido tantos problemas porém Nikko, de oito anos, menino muito esperto, comunicava em quatro ou cinco línguas. Parece que aproveitou muito das mudanças constantes, totalmente diferente do Tommo.

Cada caso, cada família, cada experiência de aprendizagem é totalmente diferente. Podemos relatar alguns casos muitos diferentes. Minha amiga e aluna de pós-doutoramento, Vanete, casou-se com Georg, alemão. Eles têm uma filha de três anos, Sofia. Moram perto de Campinas. Georg passa muito tempo com a filha, e agora os dois estão na Alemanha. Sofia está aprendendo as duas línguas muito bem, e já está traduzindo alemão para o português!

Dennitza, de Bulgária, casou com Kussun, do Japão, quando ela estava fazendo seu doutorado no Japão. Têm dois filhos, Mari-chan, de três anos, e Danny-boy, de sete meses. Moram em Hong Kong. Dennitza quase sempre fala japonês com seus filhos; inglês é a segunda língua, que falam com amigos; chinês é a terceira; e a língua mãe foi deixada de lado.

Duas semanas atrás conheci Fabi, de Campinas, num evento na escola Alemã Porto Seguro num evento que prestigiava o tradutor de Os Sertões, Berthold Zilly, que agora está traduzindo Grandes Sertões Veredas para o alemão. A mãe da Fabi era negra, professora de alemão, e seu pai é de família japonesa. A mãe sempre insistiu em sempre falar alemão com os três filhos, para dar uma vantagem na vida para os filhos. Às vezes os filhos resistiram, especialmente quando viram que todos os falantes do alemão, pelo menos no Brasil, eram branquinhos e ricos, mas acabaram aprendendo o alemão muito bem: agora Fabi é professora na Escola Waldorf em Campinas; e sua irmã é médica na Alemanha.

Minha filha Marcela nasceu em 30 de abril. Sempre falo inglês com ela. Parece uma menina muito esperta. Quando a chamo de “Naughty girl”, ela ri. Será que entende? Os pais sempre pensam que sim. Sempre falo inglês com ela. Antes de passar Natal na Inglaterra, vamos passar quatro dias em Istambul. Será que sua primeira palavra será: “Merhaba”?


John Milton é professor de Literatura Inglesa e Estudos da Tradução na USP.
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