Olá a todos os leitores. Sinceramente espero que esta mensagem os encontre bem e seguros. Há algum tempo tenho escrito e dado cursos sobre gamificação e e-learning para a Disal. Contudo afirmo que a situação que enfrentamos hoje, bem como os seus desafios, nos pegou de calças curtas. Profissionais, antes acostumados com a segurança e a experiência do ensino face a face, tiveram de se aventurar no universo on-line. O ensino on- line oferece uma gama enorme de possibilidades, mas isso pode ser a sua salvação ou cruz. Tudo depende de como o professor decidirá usá-lo. Sim, você leu certo! Tudo depende de como o professor vai “curar” o conteúdo a ser ministrado em aula. Neste texto, proponho- me a discutir e dar algumas dicas sobre o passo a passo que devemos seguir ao se criar aulas interativas. Claro que cada professor tem o seu próprio estilo de aula e, por isso, me proponho a explorar algumas opções.
Como sempre digo nas minhas aulas e palestras, cabe ao professor servir como curador de conteúdo. O que significa que cabe ao professor criar e escolher o material e a tecnologia a serem usados. A tecnologia, site ou app utilizado vai depender do o conteúdo proposto para aula. A tecnologia não excluí a necessidade de se planejar a aula ou de se fazer o famoso planejamento de aula. De fato, há um ano tenho tido o prazer de apresentar e debater práticas pedagógicas para o ensino digital nos Webinares da Disal. Para quem não teve a chance de assistir algumas das minhas palestras. Sintam-se à vontade para clicar nos títulos das últimas duas, e assisti-las: Como criar materiais interativos para usar na sala de aula e Como montar questionário, avaliações e materiais de colaboração on-line.
Mas o fato é que devemos seguir alguns passos ao se elaborar uma aula on-line. E o primeiro deles é entender o que você precisa para a sua aula. Várias intuições de renome como Cambridge Assessment International Education, Oxford University Press (para os falantes de inglês) e mídias brasileiras como Desafios da Educação e a empresa Microsoft, só para citar algumas iniciativas, têm procurado nos auxiliar, durante esse momento de mudanças e desafios. Grupos no WhatsApp e Facebook têm também sido de grande ajuda. Eu mesmo criei o site DoctorLinguae para compartilhar os meus materiais e dicas com quem precisa. Mas nada disso vai ser de grande ajuda, se você não tiver em mente exatamente o que você precisa para a sua aula. Afinal, não basta só selecionar um app (ex. Zoom, Skype, etc) ou LMS (Learning Management System; ex. Moddle, Edmodo, VLE, etc), e adaptar os materiais que seriam usados na aula face a face. Dar aulas on-line vai muito além disso. O uso da tecnologia pode propiciar um momento de aprendizagem prazeroso para alunos e professores, ou se transformar numa tortura.
A primeira coisa que você precisa fazer é se informar ou se familiarizar é com a LMS (ex. Moddle, Edmodo, VLE, etc) ou apps (ex. Zoom, Skype, etc) que a sua escola resolveu usar. Assista aos tutorias disponíveis on-line. Veja o que esses recursos tecnológicos podem lhe oferecer e contribuir na educação e na forma como você terá de ministrar a sua aula. Informe-se sobre a necessidade de as aulas serem síncronas (ao vivo) ou assíncronas (gravadas). Veja se você vai poder usar o app, site ou LMS para disponibilizar o material a ser usado na sala de aula. Se não, o que você vai fazer? Vai mandar o material por e-mail? Não esqueça de escolher uma forma de compartilhar o material. Decida se você vai preparar slides ou vai trabalhar com ferramentas colaborativas, a exemplo do Google Docs e Google Slides. Tudo isso deve ser pensado de antemão.
Na universidade que eu trabalho, por exemplo, nós tivemos a escolha de usar Zoom ou Panopto, em conjunto com o VLE. O Panopto, por exemplo, já era usado para gravar algumas das aulas face a face. Então não foi uma mudança muito grande. Mas também tivemos a opção de usar Zoom, especialmente para professores e tutores que não estavam acostumados com o Panopto. Afinal, um pouco de flexibilidade também é necessário num momento como este.
A segunda coisa a ser feita é de se lembrar da importância de se manter a mesma relação com os seus alunos. O ambiente de ensino mudou, mas as pessoas são as mesmas. Passar segurança e continuidade é muito importante em momentos de incerteza. Afinal, para professores e escolas que não estavam habituados com a rotina de ensino on-line, tal mudança pode parecer assustadora. Muitos cursos on-line como os do Coursera, por exemplo, são assíncronos. Isso quer dizer que o curso é preparado antes de se conhecer os alunos. Esta é uma forma válida de se trabalhar. Mas se os seus estudantes estão acostumados a ter a atenção de um professor, que pensa nas necessidades deles ao preparar as aulas; não ter o mesmo tratamento pode causar estranhamento. Afinal, dar aula on-line não significa não interagir, e a prova disto são a quantidade de recursos colaborativos (ex, Google Docs, Google slides, etc) que temos a nossa disposição. Há muita coisa bacana que podemos fazer com esses recursos a exemplo da atividade What does mate mean?.
Para extravasar e incrementarmos o conteúdo da aula podemos também fazer uso de recursos e ferramentas de gamificação como o Kahoot ou Learning app. É sempre muito divertido e todos sempre gostam. Quem não gosta de participar de um desafio ou de ouvir música. Mas tudo deve ser pensado com cura e imaginação. Você, por exemplo, pode usar os seguintes recursos para as seguintes propostas pedagógicas:
- Dar feedback das atividades feitas em sala ou em casa: via e-mail, mensagens em ambientes LMS, Google Docs, etc. Fica ao seu critério o fazer individualmente ou em grupo.
- Estimular a conversa entre alunos e o debate: via Google docs, Google slides, dividindo alunos em grupos (breakout rooms). Alguns apps e LMS permitem fazer isso. Outra maneira de estimular debate é ao se usar PollEverywhere.
- Resolver dúvidas e dar instruções- via chat de algum app, via e-mail ou, melhor ainda, via LMS.
- Avaliação- Criar questionários on-line via Google Docs, Learning Apps, Socrates, etc.
- Estimular atividades descontraídas de aprendizagem com gamificação: Kahoot, Learning apps, etc.
A terceira coisa a se levar em consideração é a sua própria identidade. Cada professor tem uma e é justamente isso que nos faz únicos. Mantenha uma mente aberta para incorporar novas descobertas e se maravilhar com a gama de opções que temos hoje. Mas não mude o seu estilo de aula. Essa é a uma das suas maiores características. Se você não gosta de jogos, use músicas ou Google docs. O importante é estimular os seus alunos.
A quarta coisa a se levar em conta é tornar o meu material acessível aos seus alunos. Alguns professores compartilham o material antes da aula, já outros o fazem depois. O importante é que o seu aluno sempre tenha acesso ao que ele vai aprender ou já aprendeu. Eu, por exemplo, gosto que os meus alunos tenham acesso ao material antes. Isso os possibilita fazerem anotações ou relerem o material preparado para a lição, durante a própria aula. Há várias formas de compartilhar o conteúdo das aulas: via ambientes LMS (Moodle, VLE, Edmodo) ou on-line (Google Docs, Google slides, etc). Caso você use Google Docs, compartilhar o conteúdo antes da aula é vital! Afinal Google Docs são uma excelente maneira de estimular a interação entre alunos, especialmente com grupos grandes.
A quinta dica é: aproveite este momento para aprender coisas novas. Sei é um momento de muito estresse para todos nós. Mas o veja como uma oportunidade de aprendizagem. Contudo, não tente abraçar o mundo. Nós precisamos acima de tudo estar bem mentalmente e fisicamente para conseguirmos dar o melhor de nós em nossas aulas.
Espero que eu tenha podido ajudar. Com o tempo você irá se acostumar e, provavelmente, até gostará de dar aulas on-line. Afinal, dar aulas on-line é quem nem andar de bicicleta. Uma vez que aprendemos, pode ser prazeroso e estimulante. Caso precise de algo, não hesite em entrar em contato comigo via Instagram (@doctorlinguae).
A Autora
Carla é instrutora de português na Universidade de Surrey e examinadora externa de português na Universidade de Manchester e da Pearson. Tem doutorado em Linguística (Comunicação Humana) pela Universidade de Sheffield, onde ela se especializou em fonética, bilinguismo e aquisição de primeira, segunda línguas. Antes disso, obteve o seu bacharelado Letras inglês- português pela PUC-SP e um mestrado em linguística de desenvolvimento na Universidade de Edimburgo. Ela também possui o certificado CELTA para ensinar inglês como língua estrangeira para adultos. Carla ensina idiomas há mais de 10 anos. Ela lecionou inglês no Brasil e português na Itália, onde também trabalhou como pesquisadora na Universidade de Padova. Desde 2014, ensina português, italiano e inglês no ensino superior e em muitas escolas de idiomas do Reino Unido.
Desde 2012, Carla tem publicado os resultados de sua pesquisa em bilinguismo e aquisição de primeira e segunda línguas em revistas especializadas e anais de congressos. Em 2019, ela teve o prazer de trabalhar como revisora para a nova versão do Dicionário Houassis, que será republicado pela Oxford University Press. Desde 2018, também tem ministrado cursos de formação de professores na Inglaterra e no Brasil. Com a crise do Covid-19, Carla criou um site www.doctorlinguae.com para ajudar e assessorar os iniciantes em aulas on-line. Neste site você poderá encontrar muitas dicas e matérias pontos para serem usados nas suas aulas.
Correspondência:
c.munhozxavier@surrey.ac.uk
School of Literature and Languages
Library and Learning Centre
University of Surrey
Guildford
Surrey