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A Salvação da Lavoura – Gaveta do Ivo

sauvas
Quando em 1982, o lexicógrafo José Augusto Fernandes lançou o seu “Dicionário de Rimas da Língua Portuguesa”, o poeta Carlos Drummond de Andrade saudou a obra como sendo “a salvação da lavoura poética”. A expressão “salvação da lavoura” era largamente conhecida do público rural, principalmente dos mineiros, por ter sido veiculada durante uma campanha que visava à extinção da formiga saúva,  uma praga então comum no interior.
Havia até a frase: “Ou o Brasil acaba com a saúva, ou a saúva acaba com o Brasil”, atribuída ora a Saint Hilaire, ora a Monteiro Lobato. E para combater a praga, logo apareceu um formicida oportunista que se anunciava como “a salvação da lavoura”. O termo passou logo a compreender qualquer panaceia, qualquer dispositivo ou estratagema que resolvesse dificuldades, efeito milagroso capaz de reverter situações penosas. De fato, o dicionário de rimas de José Augusto Fernandes veio a facilitar sobremodo, aos nossos vates e menestréis, essa busca, às vezes    laboriosa, e o poeta-mineiro Carlos Drummond, que não precisava de modo algum de tal dicionário, fez muito bem em divulgar a obra valendo-se da expressão interiorana.

digitalizar0001Talvez pudéssemos plagiá-lo dizendo que o “VocabuLando”, de Isa Mara Lando é o livro a que deveríamos chamar de “a salvação da lavoura tradutória”. Diferentemente de outros vocabulários da língua inglesa, em que o consulente encontra apenas o significado imediato da palavra procurada, este aqui é feito para “quebrar os galhos” da tradução inglesa, dada a sua riqueza de sinônimos e a exemplificação da pertinência de cada um deles conforme o sentido da frase. O profissional que se dedica a esse muito elogiado, mas pouco rentável ofício de viajar de uma língua para outra, vai encontrar aqui, de fato, a “salvação” de seus problemas, pois a autora não apenas dá o significado ou significados da palavra, mas alerta para erros comuns de vocabulário, identificando os chamados ”falsos amigos”, além de corrigir velhos hábitos, alguns já enraizados na prática tradutória. Para tanto, a autora não se poupa de dizer um sonoro NÃO aos tradutores. Vejamos alguns exemplos:
EVENTUALLY, adv. Eventually NÃO é “eventualmente” (OCCASIONALLY): He got very sick and eventually died = Ficou muito doente e por fim morreu,acabou morrendo. (NÃO “eventualmente
PEOPLE s. Note o plural peoples no sentido de “povos”, NÃO “pessoas”.
ENHANCE v. Qual a diferença entre enhance e improve? Improve denota melhorar algo insatisfatório, ao passo que enhance significa aperfeiçoar, refinar algo que já é bom.
UNDERMINE v. Undermine conota 1) atacar os alicerces ou 2) sabotar, especialmente o poder, a autoridade ou as chances de sucesso de alguém.
AGAIN adv. Usar “voltar”: He never saw her again = Não voltou mais a vê-la ou usar o prefixo “re”: Let’ s start again = Vamos recomeçar
Durante mais de trinta anos, a autora Isa Mara Lando vem coletando material para este livro com base nas mais de 100 traduções feitas por ela de livros de vário teor literário e das aulas de tradução que tem administrado. Ela passou por todos os percalços por que passam os tradutores de inglês, as dúvidas de como traduzir este ou aquele verbo alterado pela preposição, a frase que não fazia sentido porque certa palavra não correspondia à sua tradução imediata e era preciso encontrar a equivalência adequada, etc. Pacientemente foi anotando ao longo do tempo as armadilhas que surgiram no seu caminho e o modo de evitá-las, o uso arraigado de determinadas traduções que na verdade não correspondiam ao sentido do original e, principalmente, a adequação da linguagem traduzida em relação ao nível cultural ou social de seu elocutor (ex. uma simples palavra como shit pode ter vários equivalentes em português dependendo “daquele” que a pronuncia). Quem saiu ganhando foram os tradutores que agora podem dispor facilmente de sua experiência. Livro que em inglês se chamaria “compagnion” (companheiro, guia, guru) e que nós, sem-cerimoniosamente, chamamos de “quebra-galho”.
Publicação original: Gaveta do Ivo
 

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