Veja agora mesmo a nova edição #82 da Revista New Routes na íntegra!

BlogInglês

A Alfabetização em Língua Inglesa – Rodolfo Mattiello

Com o boom de escolas que se auto proclamam bilíngues, também tem aumentado a oferta de alfabetização em língua inglesa. Porém, esse trabalho precisa ser muito bem detalhado e planejado afinal as diferenças entre os dois idiomas – português e inglês – é bem significativa, começando que a língua estrangeira tem viés fonético e a nossa língua materna, ortográfico.
Mas então como preencher esse gap que a alfabetização em língua inglesa anda apresentando em muitas escolas que embarcam na empreitada de se alfabetizar nossas crianças em inglês juntamente com o português? Primeiro, a gente precisa entender que estamos transferindo para a língua estrangeira – no caso o inglês – características do nosso bom e velho idioma materno. Os alfabetizadores costumam trabalhar com as crianças o alfabeto, iniciando pelas vogais e depois partindo para as consoantes e aí sim as combinando em sílabas. Claro que isso é uma esquematização pedagógica, mas a gente sabe que dependendo do desempenho dos alunos, os professores têm autonomia para praticar com os pequeninos a parte alfabética que mais convier no momento.
Professores preferem iniciar por vogais por não serem oclusivas e exigirem o mínimo de esforço para produção de som. De maneira bem simplista, basta abrir a boca para produzir o som de uma vogal no nosso português e a grafia delas está diretamente ligada ao “nome” que cada vogal carrega, e.g. A como em árvore, menina, bola, isto é, escrever a letra A está conectado com o entendimento de como se produz a vogal porque não há diferenças sonoras e ortográficas. Vamos considerar a palavra cat, muito utilizada com os aluninhos durante a alfabetização.

(1)
I loved your c/æ/t.
(2) He’s such a beautiful c/ɑ/t, isn’t he?

O que se nota em (1) e (2) são sons diferentes para a mesma grafia da vogal A com possíveis
variações fonológicas provenientes de regionalidade. Aí eu pergunto: o professor alfabetizador em língua inglesa mostra pros alunos que aquela letra é A (“ei”) e exemplifica com a palavra made, ace ou face, como que trabalha quando o aluno se depara com apple, swan ou chocolate? Detalhe que na última, há uma tendência entre pequeninos e adultos a produzirem chocol/eɪ/te justamente porque foi feita a associação entre a vogal e a grafia como é feita com a língua portuguesa. O raciocínio é “porque essa letra se fala ‘ei’, e na palavra chocolate vai essa letra, eu devo pronunciá-la conforme a vogal”. Pronto. O início de um problemão.
Logo após as vogais, que em inglês elas são mais que o dobro do português (cinco), temos a tendência de passar para as consoantes que geralmente tem parte motora mais complexa por envolver outras partes da cabeça como dentes, lábios, ponta da língua, etc. Se a gente pensar na letra K, muito comum em palavras do inglês, geralmente educadores fazem sua associação com /k/ como podemos ver em (3), mas em diversas outras situações, essa letra não é pronunciada – (4). Até aí, é só adotar a mesma estratégia quando mostramos ao pequeninos que a letra C está associada tanto com /k/ (caminho, caminhão) quanto com /s/ (anúncio, centro), só que por vezes a gente vai se deparar com dessert. Todo o trabalho de assimilação e associação feito em língua inglesa para C e S com /s/ vai por água abaixo. O problema é quando a ortografia não faz sentido com a pronúncia da palavra, geralmente o recurso utilizado para acesso à informação das palavras aprendidas. Afinal, como que (5) pode ser escrito com S uma vez que o que foi ensinado é que S se refere a /s/?

(3)
Kick
(4) Know
(5) Observation

No caso de alfabetização em língua inglesa o trabalho é maior, pois é necessário mostrar pras crianças todas as variações fonéticas que uma letra pode apresentar. Enquanto a língua portuguesa nos facilita com praticamente sons correlacionados às letras e algumas variações, o inglês dificulta por nos forçar a apresentar muito mais alternativas para, por exemplo, a vogal I. De acordo com o
programa de ensino de língua inglesa da Inglaterra publicado em 2013, os professores responsáveis pela alfabetização das crianças precisam cobrir a correlação entre sons e letras que o idioma oferece e são mais de 40! Dá trabalho? Com certeza, mas somente assim podemos de fato alfabetizar os aluninhos de maneira eficaz. Portanto, quando for o momento de se trabalhar a bilabial /b/ com os alunos, lembre-se da variável que ela carrega em final de palavra, tornando-se volátil como em bomb, tomb. Por isso, é importante ter dentro do planejamento as atividades relacionadas às correlações letra-fonema e não somente as diretamente ligadas à pronúncia daquela letra.
Infelizmente, ainda temos que trocar muitas informações com países cuja língua materna é o inglês se quisermos ter excelência na alfabetização desse idioma. O que não podemos mais fazer é tratar essa nova língua da mesma maneira que tratamos a alfabetização em português. Elas têm similaridades mas no que tange correlação letra-fonema, a língua estrangeira tem muito mais peculiaridades a serem trabalhadas.

Related posts
Inglês

How can our lessons be even more intercultural?

Book ReviewInglês

Making Connections: A Practical Guide to Online Intercultural Exchanges

Editorial NRInglês

Ready for Carnival? Learn how the whole world fell in love with the celebration of joy and extravagance

Editorial NRInglês

Very British expressions. How many do you know?

Assine nossa Newsletter e
fique informado

    E-mail

    Deixe um comentário

    O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

    Espere um pouquinho!
    Queremos mantê-lo informado sobre as principais novidades do mercado acadêmico, editorial e de idiomas!
    Suas informações nunca serão compartilhadas com terceiros.