A educação é um processo que envolve dois elementos básicos: ensinar e aprender. Por muito tempo, o “ensinar” prevaleceu sobre o “aprender”, uma vez que o foco maior da educação era no ensino como forma de transmissão de conhecimento, de perpetuar todo o conhecimento humano, repassando-o às futuras gerações. Aspectos como interesse, engajamento ou agência por parte de aprendizes não tinham relevância. Alunos tinham que estudar e aprender, independentemente de seu interesse pelo assunto ou mesmo da relevância do conteúdo para sua vida pessoal, acadêmica ou profissional. É interessante notar que, apesar de soar anacrônica, ainda hoje essa visão tem bastante aderência por parte de um número considerável de educadores, pais de alunos e até mesmo alunos.
É importante lembrar, no entanto, que repassar conhecimento já existente não leva necessariamente à geração de novos conhecimentos. E gerar novos conhecimentos é essencial para a sobrevivência e a evolução de todas as áreas do saber. A geração de conhecimento pressupõe engajamento, ativação de raciocínio crítico e reflexão sobre problemas concretos, entre outros. Ou seja, sem que essas habilidades sejam desenvolvidas nos alunos, não teremos futuros cientistas, filósofos ou historiadores capazes de agregar novos conhecimentos a essas e todas as outras áreas do conhecimento. O ideal é que essas habilidades sejam desenvolvidas desde o início da vida acadêmica dos alunos, já na educação infantil, e a melhor forma de desenvolver essas habilidades é através da implantação de metodologias ativas.
A opção por metodologias ativas é uma escolha pedagógica que redefine as formas de ensinar e aprender e, consequentemente, os papéis de professores e aprendizes, o projeto pedagógico da escola, os objetivos de aprendizagem, os recursos pedagógicos, a formação de docentes, o espaço físico da escola, enfim, todos os elementos que compõem a educação.
Metodologias ativas – o que são e seus benefícios
Metodologias ativas pressupõem aprendizagem ativa, um processo que coloca os aprendizes no centro do processo de aprendizagem e que valoriza como aprender (estratégias de aprendizagem, protocolos de pensamento) tanto quanto o quê aprender (conteúdos). O conceito de aprendizagem ativa é baseado no construtivismo que, a partir da obra de Piaget, originou várias teorias de aquisição e construção de conhecimento que, basicamente, enfatizam o fato de que os seres humanos constroem seu próprio entendimento. Os construtivistas argumentam que a aprendizagem é um processo de construção de sentido e que os aprendizes desenvolvem seu conhecimento e compreensão existentes a fim de alcançar níveis mais profundos de compreensão. Isto significa que os alunos são mais capazes de analisar, avaliar e sintetizar idéias, alcançando assim as habilidades de ordem mais elevada da Taxonomia de Bloom. Professores facilitam que os alunos atinjam esses níveis mais profundos de compreensão ao proporcionar ambientes nos quais instrução, aprendizagem, oportunidades, interações e tarefas promovem o aprendizado profundo.
O conceito de aprendizagem ativa foi definido pela primeira vez por Bonwell e Eison (1991) como “qualquer coisa que envolva alunos em fazer coisas e a pensar sobre sobre as coisas que estão fazendo”1. Ou seja, engajar alunos ativamente em atividades significativas como discussões, debates, projetos e também encorajá-los a pensar sobre seu processo de aprendizagem (metacognição), o que promove sua habilidade de auto-regulação e auto-avaliação, além da capacidade de atingir habilidades de ordem mais elevada, como criar, analisar e avaliar.
Nesse processo, os aprendizes entendem que aprender não é só sobre o conteúdo, mas também sobre o processo de aprendizagem, desenvolvem autonomia e responsabilidade pelo seu próprio processo de aprendizagem, entendem que aprendizagem é um processo colaborativo de construção de conhecimento, e desenvolvem habilidades de aprendizagem para toda a vida, aplicáveis a qualquer contexto ou área do conhecimento.
Caminhos e melhores práticas
Como implementar metodologias e aprendizagem ativas de maneira eficaz? Primeiramente, deve haver consistência entre crença e prática. Como dito anteriormente, a opção pela implementação de metodologias ativas e aprendizagem ativa implica em uma série de adequações de todo o contexto escolar, que passam necessariamente por uma crença de toda a comunidade na relevância e eficácia dessa alternativa de aprendizagem. Em suma, discurso e prática pedagógica devem estar alinhados e implementados em todas as áreas do conhecimento. Não é possível que as aulas, as experiências de aprendizagem e o processo de avaliação de áreas de conhecimento diferentes sigam modelos pedagógicos divergentes.
Em seguida, devemos considerar a formação do corpo docente. É vital que todos os professores acreditem na eficácia e estejam capacitados a implementar metodologias e aprendizagem ativas. Com esses dois primeiros pontos no no lugar, tudo fica mais fácil. Estamos falando aqui de um estágio prévio à implementação.
Em seguida, é preciso estabelecer que a eficácia da aprendizagem ativa se dá não só pela implementação de atividades ativas, mas também através do desenvolvimento de habilidades de aprendizagem. Implementar atividades sem desenvolver essas habilidades não contribui para o desenvolvimento de aprendizes capazes de criar conhecimento em qualquer área do saber. Ou seja, o desenvolvimento de habilidades de aprendizagem é o que faz com que as atividades tenham sentido e relevância em um modelo pedagógico de metodologias ativas.
Nessa perspectiva, é importante também que os aprendizes participem do processo de estabelecimento dos objetivos de aprendizagem, não só com relação aos conteúdos mas também às habilidades que querem desenvolver. Esse processo faz parte do desenvolvimento da autonomia desses aprendizes, bem como de sua responsabilidade pelo seu aprendizado. Consequentemente, os aprendizes devem participar do processo de avaliação do atingimento desses objetivos de aprendizagem através de processos de auto-avaliação, avaliação dos pares, do currículo, entre outros. Nesse sentido, é importante considerar que os alunos, de maneira geral, não têm as habilidades necessárias para participarem dos processos de estabelecimento de objetivos de aprendizagem e de avaliação e precisam de treinamento e capacitação para serem capazes de contribuir de forma relevante com esses processos. Precisam, portanto, da expertise dos professores para guiá-los nessa jornada.
Adotar uma abordagem de aprendizagem ativa coloca toda a comunidade na posição de aprendiz. Assim, professores e coordenadores devem envolver-se em pesquisar casos de sucesso e analisar sua aplicabilidade nos seus contextos educacionais. Além disso, devem dedicar-se a analisar criticamente os resultados atingidos no seu próprio contexto durante a implementação a fim de identificar boas práticas e áreas que necessitam de melhorias. Para algumas ideias práticas, favor ver os links sugeridos na seção Referências.
Finalmente, é importante ter em mente que a implementação de uma abordagem de aprendizagem ativa não precisa ser feita de forma radical, mudando toda a organização física e as práticas de ensino/aprendizagem da escola abruptamente. Essa implementação pode e, muitas vezes, deve ser gradual para que toda a comunidade tenha tempo de se adaptar e perceber os benefícios concretos que a abordagem pode propiciar.
Referências
Bacich, L., & Moran, J. (2017). Metodologias ativas para uma educação inovadora: uma abordagem teórico-prática. Porto Alegre: Penso Editora.
Bonwell, C. C., & Eison, J. A. (1991). Active learning: Creating excitement in the classroom (ASHE–ERIC Higher Education Rep. No. 1).Washington, DC: The George Washington University, School of Education and Human Development.
https://blog.jovensgenios.com/metodologias-ativas-como-aplicar/
https://www.prodigygame.com/main-en/blog/active-learning-strategies-examples/
http://www.pz.harvard.edu/thinking-routines
Notas
1 Traduzido do original pela autora: “anything that involves students in doing things and thinking about the things they are doing”.