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Falar uma língua estrangeira é atravessar a fronteira humana entre as pessoas – Adrian Clarindo

Minha experiência com a língua inglesa começou cedo. Foi um amigo meu que tinha um vídeo game e que me mostrou um mundo cheio de palavras em inglês. Eu tinha uma curiosidade imensa em saber exatamente o que aquelas personagens virtuais estavam querendo dizer, apesar de ser fácil e intuitivo seguir os comandos do jogo. Na minha casa mesmo, tínhamos um único dicionário de inglês, pequeno, velhinho, e que era um grande auxílio para mim. Lembro, e já comparo a lembrança com as facilidades tecnológicas de hoje em dia, que naquele tempo que levamos para dormir, sempre me vinha uma dúvida sobre a tradução de alguma palavra. “Como se diz rodapé em inglês, será?” E, então, a dúvida virava uma farpa no meu coração. Era preciso levantar-se da cama, acender a luz, procurar o termo no dicionário e aí, sim, sanado, voltar a dormir.
Na escola pública, o ensino de inglês sempre foi complicado: muitos alunos por sala, muitos desinteresses diferentes para com a disciplina, muitos professores de boa vontade, mas nem sempre tão preparados, e eu querendo imensamente usar aquele acúmulo verbal em uma língua diferente com outra pessoa. Assistindo filmes americanos na TV com imagens sem cores, eu sonhava colorido em visitar os Estados Unidos um dia e falar inglês um montão. Estudar em uma escola privada de idiomas nem passava pela cabeça de qualquer garoto que morava lá na vila onde eu morava. E foi lá na vila, que um dia, um amigo apareceu com um número de telefone com muitos números. Na fala deste amigo, através daquele número “dava para falar com os Estados Unidos”. Ligávamos do telefone público e alguém atendia e de fato falava inglês. A primeira vez que liguei, e a pessoa falou inglês do outro lado da linha, eu congelei e desliguei o telefone. Aí liguei de volta. Um homem atendeu e disse algo como Hello, can I help you? E eu respondi: Do you like Pink Floyd? Foi a única frase que me veio à cabeça no momento: falar sobre a minha banda favorita. E ele respondeu um Yes, I do like Pink Floyd! E eu fiquei muito, mas muito feliz. Tinha trocado uma frase, uma mísera frase em inglês, algo que jamais achava que iria acontecer. O rapaz do outro lado da linha não soube, mas naquele dia, ele tinha feito um garotinho se encher de esperança, simplesmente por responder uma frase, por ter feito eu falando inglês existir um pouquinho.
Com as esperanças renovadas, eu me matriculei num cursinho pré-vestibular para pessoas de baixa-renda. Não conseguia ir, por causa da passagem de ônibus que me faltava, mas recebi apoio demais de uma professora. Lembro-me da frase que ela me disse, depois te ter lido uma redação minha. Ela disse: “Adrian, não é você que precisa da universidade. É a universidade que precisa de você”. Então, prestei vestibular e consegui entrar no curso de Letras (Português/Inglês). Fiz mestrado em Linguagem. E trabalhei em boas escolas de inglês, em faculdades, mesmo na própria universidade em que um dia fui aluno. Passei nos exames mais avançados da língua e reconhecidos mundialmente. Trabalhei como tradutor, e também como professor de português para falantes de inglês. E tento ser todo dia o professor que eu nunca tive, elucidando as dúvidas que levavam meses, até anos para que eu conseguisse alguma resposta, às vezes mesmo antes destas dúvidas surgirem nos alunos.
Ainda sonho em viajar para fora do país, e poder vivenciar ainda mais o que comecei a aprender com os vídeos games na casa do meu amigo: não falo só de inglês, mas do fato de que aprender uma língua é construir uma ponte onde antes só se tinham muros, é atravessar a fronteira que existe entre as pessoas, seja para falar de assuntos importantes, seja para falar sobre a tua banda favorita.

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